featured article about george saterial's quest to become the worlds greatest magician

Tony Brook à Conversa com…
George Saterial

Traduzido por: Charles Brook

(English version)

George Saterial é um mágico americano que tem a honra de ser o único mágico na História do ilusionismo a ganhar duas medalhas de ouro. Ganhou a medalha de ouro e a People’s Choice Award (Votação do Público) na convenção da SAM e também ganhou as medalha de ouro e o Primeiro Lugar na competição de palco na convenção da IBM. Na FISM em Lisboa, conquistou também o terceiro lugar “exequo” na categoria de Magia Geral . Já se escreveram muitos artigos sobre George Saterial, nomeadamente na Genii, Magic, M-U-M – a revista mensal da SAM e na Linking Ring, a revista mensal da IBM. Já apareceu inúmeras vezes na imprensa e na televisão. Como sou um Mentalista, prevejo que George Saterial será brevemente um vedeta no World’s Greatest Magic.

Muitos mágicos como Jay Marshall, Gary Hughes, Lance Burton e Channing Pollock elogiam a actuação de George. Isso não surpreende muito, pois a sua actuação tem um ritmo e é muito original. Apresenta-a de uma forma confiante e verdadeiramente espectacular. Por outras palavras, demonstra o que Eugene Burger descreve como “criar experiências especiais”. A actuação de George é tudo isso e muito mais. Richard Kaufman, Director da revista Genii, escreveu um artigo extenso sobre George em que o descreve como “um grande artista, alguém que te faz abrir bem os olhos e que comanda muita atenção”. John Moehring da revista Magic também escreveu um artigo extenso sobre George Saterial na edição de Setembro de 1999.

Lionel Ritchie, Robert Duval, Tony Randall e uma grande quantidade de vedetas do mundo da música e de Hollywood elogiaram a magia de George. George é um artista com muita experiência e está envolvido na arte de ilusionismo durante cerca de 30 anos. Interessou-se pela magia quando tinha cerca de 7 anos e quando tinha 12 anos fez a sua primeira actuação para o aniversário de um vizinho. Nessa altura, recebeu $5 dollares. Passaram 25 anos, e hoje o seu caché é um pouco mais elevado! George já fez e ainda faz todo o tipo de magia, sendo close-up, ilusões, cabaret, etc. Profissional a tempo inteiro desde 1986, já actuou no Magic Castle, em cruzeiros, televisão e outros locais prestigiosos.

Ouvi falar de George através de amigos nos Estados Unidos. Descreviam-no como algo sensacional na magia e como “o tipo com o relógio de parede”, uma descrição que George até gosta. Como fiz parte da equipa dos bastidores para a competição na FISM, tive o prazer de conhecer George na segunda-feira da parte da manhã. Mais tarde, tomamos um café, e estabelecemos uma amizade. No dia 7 de Julho (dia que também fiz 53 anos), George e a sua esposa Holly, juntamente com Torkova, Charles Brook, Dan & Carol Garrett, Angelo Carbone e Dave & Jann Goodsell juntaram-se para me oferecer um almoço especial no meu aniversário. Foi uma tarde maravilhosa, e George e Holly convidaram-me para ir visitá-los em Boston, nos Estados Unidos onde residem. Fiquei muito feliz por ver George a receber um prémio da FISM no Sábado.

Apesar de ser um óptimo mágico, George é uma pessoa muito modesta sem falsas aparências. Destaca-se da maioria das grandes vedetas devido ao facto de que ele é muito humilde e possui um encanto genuíno. É extremamente bem educado e apesar de se considerar uma pessoa tímida, é muito aberto quando está a conversar e está sempre disposto a partilhar as suas experiências e o seu extensivo conhecimento de magia. Mesmo após um ano, ainda está admirado pelo facto de ser o único vencedor de duas medalhas de ouro.

Desde da FISM, mantivemos esta amizade e antes de George ter partido para o Japão para actuar na convenção da SAM em Agosto, perguntei-lhe se podia entrevistá-lo para a revista ‘O Mágico’. George respondeu que seria uma honra se ele pudesse partilhar um pouco da sua filosofia com os leitores de ‘O Mágico’.

Tony: George, confessaste que és uma pessoa tímida. Como é que consegues transformar-te a ti mesmo na personagem que se encontra no palco?

George: A transformação começa quando estou a montar a actuação. Existem tantos detalhes (como cortar as garras das rolas, preparar os fósforos, etc) que necessitam de toda a concentração possível, que acabo por focar muito no que estou a fazer. O ‘mundo exterior’ começa a desaparecer. É como um jogador de basquete quando tem de executar um lançamento livre: ele foca no cesto e não na multidão.

A visualização também é muito importante. Antes do espectáculo começar, procuro um lugar sossegado e coloco uns auscultadores, ouço a minha música, e, mentalmente, ‘faço’ a minha rotina. Esta técnica é muito relaxante.

Quando a minha mente tiver o seu aquecimento completado, tenho de fazer o meu aquecimento físico. Costuma fazer uns exercícios para esticar os músculos acompanhadas por uns saltos de cocas.

A transformação está completa quando coloco a maquilhagem e visto a minha roupa para a actuação. É como colocar uma segunda pele. Como se costuma dizer em Inglês… “if you dress the part, you become the part” – se nos vestimos para um papel, vamos-nos sentir como o papel – vamos fazer uma boa actuação.

Tony: Eu sei que és uma artista com muita experiência, mas demorou alguns anos antes de desenvolveres a actuação do ‘Tipo com o relógio de parede’. Podes partilhar connosco as tuas experiências e frustrações e como a ideia surgiu?

George: Quando eu comecei a trabalhar com rolas, utilizava a gaiola típica para rolas. Mas nunca gostei dela. Sempre achei que logo que a cortina abrisse, o público já saberia o que eu ia fazer. Por isso, arrumei a gaiola e adicionei um apoio à minha mesa de magia onde as rolas poderiam se sentar. A maior parte das vezes, as rolas ficariam quietas, mas uma outra sempre fugia. Muitos mágicos aconselharam-me a não dar de comer às rolas e colocar comida junto ao apoio, e assim as rolas ficariam quietas. Contudo, não gosto de fazer isso às rolas, aliás, nunca utilizei esta técnica, acho que não é saudável.

Também nunca gostei da mesa do mágico. Queria algo que desse para criar um ambiente de mais teatro. Algo que fosse único e que com as pessoas poderiam me identificar. Como disseste, ‘o Tipo com o relógio de parede’… procurei durante meses, explorando várias ideias, mas nada me satisfazia. Um dia, entrei numa loja de mobília e vi os relógios de parede. Algo interiorizou-se, limitei-me a olhar fixamente para os relógios de parede, conseguia vê-lo no palco. Mas depois apercebi-me que um relógio é um objecto ‘vivo’. Como é que eu poderia utilizá-lo na minha actuação e manter um nexo lógico? Ignorei a ideia, e continuei a minha busca. Mas durante os meses que seguiram, não consegui encontrar nada que me influenciasse, fiquei sempre a pensar nos relógios. Finalmente decidi construir um protótipo em cartão. Quando tive algo físico que eu podia manipular, as ideias começaram a surgir.

Mesmo depois de ter construído o modelo final, não cheguei a utilizá-lo durante muito tempo. Tinha muitos problemas mecânicos e em termos de teatro. Senti que não estava pronto. Mas cheguei a um ponto onde tinha de me atirar, pronto ou não. É preciso molhar-se para saber nadar. Ao actuar com o relógio e obtendo diferentes reacções de diferentes públicos, a minha actuação melhorou de uma forma significativa.
Tomou rumos que nunca teriam sido possíveis se eu me limitasse a trabalhar na minha oficina.

Ao longo dos anos, reconstruí o relógio várias vezes, juntando novas ideias e melhorias. As únicas peças originais que ainda utilizo é a face do relógio e a base.

Tony: Como te sentes sabendo que és o único mágico que ganhou duas medalhas de ouro? Como é que estes prémios foram conseguidos?

George: Quando penso no verão do ano passado, continua a ser muito estranho e surrealista. Não estou habituado a receber tanta atenção. Sinto como tudo fosse um sonho. So concorri porque era uma boa maneira de melhorar a minha actuação.
Nos últimos anos, a actuação tinha sido posto de lado devido a outros projectos, e acabei por ficar um pouco mole. A minha verdadeira paixão era a actuação com o relógio. Tinha muitas ideias que eu queria por em prática, e também queria que a actuação ganhasse reconhecimento. Competições são uma boa maneira de nos obrigar a nós mesmos de estarmos preparados num determinado espaço de tempo.
Tudo o que eu queria fazer era mostrar a nova actuação ao público em geral e ter um lugar aceitável nas competições. Nunca pensei que teria a honra de receber uma medalha de ouro, muito menos duas!

Tony: Referiste que a tua esposa Holly tem sido uma grande ajuda na sua carreira. Como é que conheceste Holly e como é que ela se envolveu na magia?

George: Conheci a Holly através de um companheiro universitário, Ken. Ele tinha um interesse pela magia e eu tinha lhe mostrado uns truques simples com cartas, moedas e cordas. Ele praticava durante toda a semana e depois mostrava à sua família quando ele ia para casa no fim-de-semana. Contudo, quando ele voltava para a escola, ele queixava-se de que a sua prima estragava sempre os seus truques. Bem, a prima dele era a Holly…e ela detestava magia! (risos)

Passado pouco tempo depois, estava a criar um novo folheto promocional e precisava de umas raparigas para entrarem na fotografia. Ken sugeriu que eu utilizasse a sua prima ‘gira’, Holly. Bem, Holly foi fantástica, e quando precisei de uma assistente para um espectáculo de variedades que Ken e eu estavamos a produzir, utilizei a Holly novamente, e ela foi fantástica novamente. Para lhe agradecer, convidei-a para jantar e o resto…bem, como se costuma dizer, é história.
Quando eu estava indeciso sobre ser um mágico a tempo inteiro, Holly apoiou-me imenso e acreditou em mim. Muitas mulheres teriam dito para deixar de sonhar e arranjar um emprego a sério. Holly apoiou-me a 100%.

Tony: Também referiste que muitos mágicos têm sido muito importantes no teu caminho para o sucesso. Costumas falar do mágico Português James Rainho, que agora reside nos Estados Unidos, como uma grande influência. Podes partilhar isso com os leitores de ‘O Mágico’?

George: Jimmy tem sido um bom amigo. Creio que ele foi o primeiro mágico profissional que eu conheci. Ele actuava, criava e vendia efeitos de magia. Não sei como, mas o meu pai ouviu falar dele, e fomos a casa dele. O aspecto especial sobre Jim é que ele não se limitava a vender os efeitos, ele dava-me dicas, certificava-se de eu sabia como utilizar o adereço. Se eu tivesse um problema, ele estava sempre disposto a me ajudar.

Alguns anos depois, a Ring IBM em Boston patrocinou uma competição de magia para jovens, na qual eu concorri e fiquei em primeiro lugar. Jimmy estava presente, e acho que foi a primeira vez que ele me viu a actuar. Durante a minha actuação, ele tirou apontamentos. Depois do espectáculo, sentou-se comigo e discutiu tudo. Nunca lhe tinha pedido para fazer isso, ele apenas ofereceu-se. Ele é muito generoso nesse aspecto.

Tenho muita sorte, pois muitos mágicos interessaram-se por mim quando eu estava a crescer. Não sei se viram algo em mim ou se apenas foi o meu entusiasmo, mas eles foram formidáveis.

Tony: Um dos teus espectáculos mais importantes foi na FISM em Portugal. Agora que tudo acabou e voltaste para casa com um prémio, o que recordas com mais vivacidade?

George: O que vou lembrar com mais vivacidade e o que teve mais importância para mim foi o facto de tantas pessoas (tu e Charles também) apoiarem-me. Foi uma honra e um privilégio ter sido escolhido pela SAM para representar o meu país. Meses antes de concorrer, recebi muitos votos de boa sorte, e quando acabei a minha rotina na FISM muitos Americanos elogiaram a minha actuação e que estavam muito orgulhosos de mim. Sabendo que todas essas pessoas importavam-se comigo e que apreciaram o que eu fiz fez com que tudo valesse a pena. Receber o prémio foi um bónus!

Tony: Vais partir para o Japão em Agosto. Antes de partires, que conselhos podes dar a jovens mágicos?

George: Segue os teus sonhos, e eles se tornarão numa realidade. Aprende tudo que puderes sobre teatro e apresentação. A magia é muito mais do que uma quantidade de truques. Esforça-te ao máximo. E acima de tudo, não deixes as coisas irem a tua cabeça. O verdadeiro sinal de um profissional é aquele que sabe a sua arte bem como respeitar os outros.

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O Magico